Faleceu aos 86 anos o piloto, construtor, empresário e artista plástico José Anísio Barbosa de Campos, mais conhecido como Anísio Campos. Nascido em São Paulo, SP, Anísio era filho de uma família abastada e passou a se interessar por carros, no fim dos anos 50, ao frequentar a oficina de Oliviero Monarca, época em que também conheceu Victor Losacco e Toni Bianco. Aos 21 anos participou, com um Jaguar Mark 5, de sua primeira corrida, a “Subida da Montanha”, realizada na antiga estrada para Santos (Caminho do Mar).
Em 1962 vendeu o Jaguar, comprou um DKW e passou a competir em Interlagos, conhecendo Christian Heins, que corria pela Willys. Com a morte de Heins em Le Mans a chefia da equipe passou para Luiz Antônio Greco, que convidou Anísio para correr pela empresa. Pilotando em Araraquara, SP, ele conheceu Rino Malzoni. Tempos depois foi Jorge Lettry que convidou Anísio para correr pela Vemag, tendo em visto a experiência obtida pelo rapaz, na Willys, ao trabalhar com o Interlagos. Disso resultou o surgimento da Lumimari, que produziu os GT Malzoni de fibra de vidro. Também na época da Vemag Anísio desenhou o Carcará, carro com o qual a empresa estabeleceu seu recorde de velocidade antes de encerrar as atividades do departamento de corridas.
Paralelamente Anísio foi chamado por Jean-Jacques Pasteur para criar um carro esporte para a Simca, o Xangô, e também participar de competições, mas, com a compra da empresa francesa pela Chrysler, o projeto do Xangô foi interrompido.
Voltou então para a Lumimari, fazendo um novo molde para o Malzoni e sugerindo o emprego de outro nome, que logo foi aceito: Puma. Houve então o convite de Paulo Goulart, da Dacon, para o desenvolvimento do Karmann-Ghia Porsche, que teria carroceria de fibra de vidro. Anísio não só ajudou a construir esses carros como foi um dos pilotos do mesmo.
Depois, em parceria com Miguel Crispim e Henrique Payá Martinez, na época da Fórmula Vê, criou e produziu o monoposto AC Vê (“AC” de Anísio Campos) em 1968. Na Puma fez outro carro de corridas, o AC, com carroceria spyder de dois lugares, mecânica VW e estilo Can Am.
Veio então a onda dos buggys, inspirados no Meyers Manx estadunidense, mas Anísio fez um modelo de inspiração original, o Tropi, depois rebatizado como Kadron, que foi apresentado em 1969. Ainda nesse ano ficaram prontos os Puma GT 4R, desenhados por Anísio e cujas unidades foram sorteadas para os leitores da revista Quatro Rodas.
No ano seguinte participou, como piloto, do “Torneio Nacional de Ford Corcel” e, em 1971, foi contratado pela Equipe Z (Equipe Hollywood) para chefiar o “time”, que tinha dois Porsche (908/2 e 910, sendo que Anísio chegou a pilotar ambos) e dois Fórmula Ford. Em 1974, ainda na Equipe Hollywood, ele participou do desenvolvimento do Maverick-Berta V8, feito pelo Argentino Oreste Berta, carro que correu até 1976, quando a equipe deixou de existir.
Posteriormente, em 1980, o concessionário Ford Souza Ramos apresentou o Corcel II Hatchback, modelo especial desenhado e desenvolvido por Anísio tendo como base a Belina II. Dois anos depois a Dacon apresentou o 928, minicarro com motor VW 1600 a ar igualmente criado pelo designer. A parceria com a Dacon (e, posteriormente, com a PAG, iniciais de Projects d’Avant Garde) também resultou na criação de carros como Nick, Nick L e Chubby, este último feito até 1991. Um pouco antes, porém (1986), baseado na F-1000, Anísio criou a Scorpion para a Engerauto, bem como o Topazzio (1987), feito a partir da Pampa. Muito tempo depois, em 2001, surgiu a “Obvio! Autoveículos”, que tinha Anísio como um dos sócios. A empresa fabricaria o 828/2, uma evolução do 828 dos anos 80, que foi relançado em 2001.
Havia ainda o projeto de um miniesportivo, o 012, cuja produção em pequena série acabou não ocorrendo e, em 2010, a Obvio! foi adquirida pela “Cappadocia Funds Brasil”. Nesse mesmo ano foi diagnosticado que Anísio estava perdendo a memória, razão pela qual sua filha caçula, a cineasta Raquel Valadares, realizou um documentário sobre o pai, denominado Homem-Carro, cujo trailer está disponível no site www.homemcarroofilme.com.br. Fica aqui, portanto, a homenagem da Classic Show para um dos maiores nomes da história do automóvel brasileiro durante o século XX.